Archive | January, 2009

tuins.

30 Jan

as semanas passam depressa. prova disso é que já estamos no fim de janeiro. mas as tardes de sexta, meudeus, essas são muito compridas. já tomei café, li todos os e-mails pendentes, escutei todas as músicas que queria, duas garrafinhas de água, organizei a papelada. até dor de cabeça já me deu e eu continuo aqui, olhando pro relógio. falta meia hora. não parece nada mas são mais trinta longos minutos procurando o que fazer.

sobre ouriços e lágrimas.

29 Jan

“é preciso viver com essa certeza de que envelheceremos e não será bonito, nem bom, nem alegre. e pensar que agora é que importa: construir agora, alguma coisa, a qualquer preço, com todas as nossas forças”. (Paloma Josse em A Elegância do Ouriço, p. 138)

terminei. tempo recorde, faça as contas: mais de 300 páginas, menos de 4 dias. há tempos uma leitura não me prendia tanto, provavelmente porque há tempos eu não me deixava prender por elas. o que importa é que a elegância do ouriço valeu a pena. linha após linha nessas noites quentes e chuvosas de curitiba, com a janela aberta, um copo de chá e a tevê (enfim) desligada.

e chorei no final. começou na página trezentos e pouco, os olhos encheram de lágrimas e a cada linha eles enchiam mais e mais até que a primeira lágrima saltou dos olhos direto para a palavra “camélias” . segui lendo e virando as páginas com todas aquelas constatações óbvias e belíssimas sobre tudo o que somos e tudo o que não seremos e as lágrimas continuaram saltando e escorrendo e de repente eram muitas delas e depois do primeiro soluço não teve mais jeito.

e me pus a pensar por quanta coisa – e quanta gente – já chorei nessa vida e nenhuma lágrima pareceu fazer muito sentido diante destas. havia um motivo para elas existirem, um único e simples motivo. e não, não era o final do livro (tenho pelo menos mais dois novinhos me esperando na estante). era a verdade nua e crua que acabava de cair sobre a minha cabeça e todas as minhas crenças e todos os meus achismos e todas as minhas certezas e todas as minhas emoções. a verdade é que somos naturalmente tão pequenos, tão mínimos, tão ínfimos, somos todos tão sra. michels, sempre nos escondendo ao mesmo tempo em que desejamos ser tão maiores.

reneé michels é zeladora, tem 54 anos e passou a vida toda se escondendo, frustrada por não poder nem fazer nem mostrar tudo aquilo que gostaria. paula schütze vai fazer 32 e todos os dias sente-se profundamente frustrada por não ter se adaptado a tantas coisas da vida: o mundo corporativo, as amizades passageiras e o inútil umbiguismo alheio. tremenda perda de tempo, frustrar-se por causa dos outros. faz parecer que vivo a minha vida num reles piloto automático…

enfim. recomendadíssimo X 2, leiam. e chorem por favor, porque de vez em quando é bom deixar vir à tona para lavar a alma.

os ouriços somos nós.

26 Jan

ourico

este final de semana eu estava na livraria. uma ânsia, uma fome de ler ler e ler. parece que nem todos os blogs do mundo, nem seus três blogs, nem todos os blogs que eu leio, dão conta da minha vontade de ler o tempo todo. acho que é um reflexo da minha vontade não-concretizada de escrever, escrever, escrever. saí dali, fui tomar um café, voltei. precisava de um livro. aí lembrei da elegância do ouriço e não pensei duas vezes. se jana leu e recomenda, então compro de olhos fechados. e lá se foram 115 páginas em apenas um dia… só pra dizer que mesmo a milhas de distância, essas pequenas coisas que existem entre a gente me fazem pensar que a vida é feita disso, dessas pequenas coisas compartilhadas. ainda que por blog, ainda que por e-mail, o gosto pelas coisas. e eu entendo que vc tenha se reconhecido no livro em muitas coisas. e, sem demérito algum. me reconheço também. naquela parte em que ela implica com uma das moradoras porque colocou a vírgula errada no bilhete da lavanderia… ali mais do que tudo, até agora. nem sempre os mais ricos são os mais inteligentes, os mais dotados de humor, ironia, compreensão do mundo. enfim. queria agradecer a dica, furtei sua leitura para dividi-la com vc.
amo!
paula.

e é isso. a dica da janaína somada à minha inexplicável sede por ler sem parar criou um monstro. volto a falar do livro assim que terminá-lo! por enquanto deixo aqui uma das muitas pérolas encontradas lá dentro…

“fora o amor, a amizade e a beleza da arte, não vejo muitas outras coisas capazes de alimentar a vida humana”.
|a elegância do ouriço, muriel barbery|

|foto de Jorge Lourenço|

o quintal do vizinho.

21 Jan

lá no aires buenos o túlio falou com propriedade sobre a sensação de não pertencer ao lugar onde estamos. seja na argentina, no brasil, nas arábias, na fazendinha, no batel ou num iglu num pólo norte qualquer, acho que a sensação de não-pertencimento surge em diversos momentos da vida. muda de nome e de endereço – e eu tendo a acreditar que viver em buenos aires deve ser mesmo irritante – mas, como ele mesmo conclui: o problema não é você, lugar, sou eu.

pois é assim, cíclico, de tempos em tempos eu sinto não pertencer a alguma coisa. como se houvesse sempre uma linha limítrofe, e quando a cruzo, preciso de uma linha nova, um desafio novo. a rotina que antes parecia normal passa a me consumir. acordar, levantar, escovar os dentes, ritual da beleza, iogurte com granola, notícias do dia, escovar os dentes de novo, vestir uma roupa, calçar os sapatos, fechar as janelas, girar a chave duas vezes na porta, andar 700 metros, passar 8h30min no escritório, voltar para casa. já sem energia alguma, tenho enfim as minhas horas de vida própria. o sono é sempre maior. o cansaço, o desgaste, a preguiça de falar/fazer/existir.

ligo a tevê. há repórteres da globo em washington, frio de -8. há repórteres da globo na faixa de gaza. há repórteres da globo na índia, aprendendo rituais e danças e comendo tudo com muita pimenta. há apresentadores da MTV trabalhando na praia, de biquíni, entre uma água de côco e outra. sinto vontade de ser qualquer coisa assim, simplinha. correspondente internacional. nem precisava aparecer na tevê com luvas de couro ou cachecóis; podia ficar ali nos bastidores. ao invés de me preocupar com a garoa insistente de curitiba, usar galochas para andar na neve. cafés no tortoni serão sempre mais charmosos do que no lucca! como sempre, qualquer vida parece mais glamourosa que a minha. o quintal do vizinho é sempre mais verde. o cachorro do vizinho não tem bafo nem faz cocô. o vizinho não tem contas a pagar, dor de barriga nem insônia. seu quintal é tão mais verde, sempre. ele sempre acha alguma coisa legal passando na tevê a cabo. até seus problemas parecem mais interessantes. os gatos do vizinho, veja só, não soltam pêlos. sua pia nunca tem louça suja. seu chefe não deve ser de todo mal e sua vida é absolutamente feliz. ah, o quintal do vizinho.

quintal_vizinho

|para dias melancólicos: ryan adams – my winding wheel|

cut your hair.

20 Jan

prometi que não vou acompanhar essa novela. odeio novelas temáticas! tony ramos no papel de indiano? não dá. e sobre o primeiro capítulo que eu não assisti, só tenho uma declaração a fazer: a cabeleira da vera fischer me trouxe lembranças da infância… quando eu passava neutrox na cabeça das minhas bonecas e elas ficavam com aquele cabelo de… barbie velha.

* tuin *

notícia bizarra: menina de onze anos queima cabeça ao fazer alisamento. deviam passar a chapinha pelando na testa da mãe que leva a filha no salão!

|dica musical do dia: pavement – cut your hair |

eu, ele e a tevê.

19 Jan

tem gente (muita) que vive sem tevê. tenho uma amiga que mudou de cidade há uns meses e não tem tevê até hoje. eu sei que o ócio produtivo deve funcionar muito melhor para elas, as pessoas sem tevê. mas eu gosto de tevê, sou uma pessoa-tevê. agora na warner passa two & a half man quase tanto quanto friends. e geralmente um depois do outro, dois de cada. na sony faz meses e meses que à noite, hora de esvaziar o que sobrou no cérebro, passa só seinfeld e scrubs. eu sou a única pessoa no mundo das pessoas-tevê que não gosta de seinfeld. fico na warner esperando passar um friends. friends é a única série no mundo assim: dá pra assistir quinze vezes o mesmo episódio e continua sendo legal. se a programação estiver um tédio, sempre haverá um episódio de friends no meio, e você sempre vai assistir e por meia hora vai esquecer da raiva que é ter tevê paga quando nunca tem nada interessante passando.

de vez em quando a gente quase disputa o controle remoto. porque ele fica trocando de canal a cada trinta e sete segundos, não dá nem tempo de descobrir se tem algo bom passando. ele diz que é porque sempre pode ter algo melhor. ele esquece da máxima, nunca tem nada melhor passando na tevê paga. ‘e quando eu começo a me interessar por algum programa que ele escolheu, ele vai lá e tchun, muda de canal de novo’, uma amiga me disse, e é assim que funcionam os homens com seus controles remotos. eu não ligo, em geral eu não ligo porque eu sempre durmo. sou a pessoa-tevê-sono. a única no mundo capaz de assistir uma novela por oito, nove meses a fio e dormir nos últimos quinze minutos do capítulo final. eu! ele não mudou de canal nessa hora, foi bom, assim ele me contou o final. esses dias falei “que vontade de ver um filme com john malkovich”, ele zapeando e vocês não vão acreditar, começou a passar um filme com j.m. pra ver como zapear tem suas vantagens. eu deixo ele zapear porque gosto de ouvir sua respiração quando está concentrado em alguma coisa, ou sua risada quando está assistindo alguma bobagem, ou suas interrogações tentando entender o contexto de algum seriado mulherzinha que eu gosto.

gosto de seriado mulherzinha, mas gosto muito mais de saber que ele está ali, zapeando.

tuins.

13 Jan

todo mundo diz que não gosta mas acaba assistindo. eu sou mais direta: assisto big brother mesmo e sem culpa. dali não vem cultura pra minha vida, mas um agradável vento para deixar a cabeça cheia de nada antes de dormir. adoro.

*tuin*

meta para 2009: andar mais. não é só questão de peso, mas de saúde. 61 minutos na esteira assistindo two & a half men. indo e voltando a pé do trabalho de novo. lado bom: há tempo para ouvir músicas no caminho. lado ruim: tomar essa decisão numa estação tão suada.

*tuin*

em 2008 eu aprendi a gostar de comida japonesa. isso é bom porque me insere em alguns contextos sociais. inclusive o das pessoas que gastam demais com delivery.

| lição do dia: use filtro solar. especialmente nas cicatrizes… |

ano começou, né?

12 Jan

o ano começou e eu não fiz promessas. a não ser a de um ano sem promessas. mas agradeci. e agradeço. ano passado entrei com os dois pés na lama, lembro bem, sem emprego. obrigada 2009, pelo salário nosso de todo mês.

o ano começou e eu ainda não fiz novas dívidas. iupi! também não fiz mudanças nos móveis da casa. mas tem o ano todo pra isso, né? hoje é só dia 12. o ano começou e eu ainda não fiz manicure e pedicure. e, para não fazer dívidas, decidi diminuir as visitas ao salão. pelo menos por enquanto. pelo menos com esse emprego. mas eu prefiro continuar com esse emprego e as unhas mais desleixadas do que não ter nenhum dos dois, né?

o ano começou e eu não fiz nenhuma promessa. no ano passado tinha prometido comprar um apartamento com lavanderia e sacada. rá rá rá, e pensar que nem emprego eu tinha quando prometi isso. onde é que eu estava com a cabeça? prometi comprar uma geladeira nova. bingo! ficou mais como um presente, e eu não sou de recusar presentes. ainda mais presentes assim. né?

o ano começou mas o prédio continua em reforma. o ano começou mas a camada de ozônio continua dando o que falar. o ano começou e eu não fui no sapateiro, na costureira, no médico homeopata, no dentista. mas e aí, tem o ano inteiro pela frente. né?

constatações. vol2

9 Jan

eu says: quando eu era sofridinha tinha inspiração pra escrever umas coisas bonitas
grilos says: no seu caso especificamente é mais fácil de escrever sobre o sofrimento
grilo says: que ninguém inveja
grilo says: do que as pessoas ficarem secando uma coisa feliz
grilo says: infelizmente é nesse mundo de gente pentelha que vivemos

| é por isso que ela é meu grilo falante do coração|

flor de cactus.

8 Jan

nos [felizes] dias de ócio voltei a pensar coisas sobre mim mesma. coisas não tão boas, sabe, minha anti-socialidade, meu humor irônico quase malvado, minha falta de paciência com certas coisas/situações/pessoas, meu olho cítrico crítico que funciona mesmo que eu não queira, e por aí vai.

com isso, coisas que eu tinha esquecido voltaram a me perturbar. coisas do dia-a-dia voltaram a me irritar, meudeus, cadê aquela pessoa zuperzen que eu havia vestido?

por exemplo: eu lembrei que não gosto muito que me cutuquem durante a conversa. sabe como, né. aquele cara que fala com você e fica te cotovelando durante a conversa. aquela cutucadinha básica pra te chacoalhar. pra te fazer concordar. pra te manter acordado. whatever. não gosto muito. não gosto nenhum pouco, aliás. aliás, detesto.

mas eu sou uma flor, cutuca aqui ó.
cactus