Verão de 1998. Eu voltava do estágio, ainda era dia claro (viva o horário de verão). Um cãozinho me seguiu do ponto de ônibus até em casa. Achei que ele podia estar faminto, dei um pedaço de pão. No dia seguinte a cena se repetiu: desci do ônibus, o cão estava lá e me seguiu até em casa. Outro pedaço de pão. No terceiro dia foi diferente. O cão facilitou as coisas e me esperou no portão de casa mesmo. Desta vez, pão e água. A família toda estava na praia, lembro de ligar pra minha mãe e dizer: “tem um cachorro simpático que não sai da frente de casa”. Dias depois, descobri que não era um cão – era uma cadelinha. Foi pro veterinário, tomou banho, vacina, remédios e o inevitável aconteceu: ela passou pro outro lado do portão, com o meu total consentimento.
A gente tinha outra cadela em casa, a Pink. Mas ela estava de férias na praia junto com a família. Então a cadelinha nova achou que a casa para onde acabara de se mudar era só sua. A Pink voltou e foi aquela confusão: as duas não ficavam juntas sem um arranca-rabo (literalmente). Durante meses, ter dois cães foi um trampo – enquanto uma saía, a outra entrava, uma ficava na cozinha, a outra na sala. O importante era que nunca se cruzassem. A Pink, que já era velhinha, adoeceu e morreu.
A Kiki – sim, este ficou sendo o nome da “nova” cadelinha da casa – não sentiu a menor falta, eu acho. Reinou absoluta por anos e anos. A família cresceu, os irmãos foram saindo de casa e a Kiki cada vez mais rainha daquele espaço. Virou a companheira inseparável da minha mãe, o tipo de cachorro que fica esperando na porta do banheiro enquanto o dono toma banho. Por um, cinco, dez anos… quatorze, pra ser mais exata.
Vou confessar para vocês que a Kiki não era assim um cachorro modelo, não. Além da antipatia por outros cães, ela também não fazia a menor questão de ser simpática com humanos – exceto com a minha mãe, é claro. Nunca foi o tipo de cão que faz festa quando alguém chega em casa. Pelo contrário: do seu cantinho no sofá, media cada visita com um olhar penetrante e um “sorriso” seguido de rosnado. Não era cachorro de colo, mas se você falasse com jeitinho “deite para coçar” ela logo virava a barriga pra cima: pronto, isto é o máximo que você terá de mim. Coce minha barriga e não me incomode. Ainda assim, lembro de todos os invernos que ela passou deitada no sofá do meu lado, esquentando os meus pés.
Dava para ouvir o barulho das suas patinhas pelo piso de madeira o dia todo: onde minha mãe ia, a bichinha ia junto. Tic, tic, tic, tic, tic, tic. O tipo de barulho que você se acostuma de tal forma que nem percebe mais… mas quando silencia, faz uma falta danada.
O ‘tic tic tic tic’ foi ótimo… Era exatamente esse barulho!! rsrs!!Vou guardar essa boa lembrança na memória… =)