A história da Kiki

29 Nov

Verão de 1998.  Eu voltava do estágio, ainda era dia claro (viva o horário de verão). Um cãozinho me seguiu do ponto de ônibus até em casa. Achei que ele podia estar faminto, dei um pedaço de pão. No dia seguinte a cena se repetiu: desci do ônibus, o cão estava lá e me seguiu até em casa. Outro pedaço de pão. No terceiro dia foi diferente. O cão facilitou as coisas e me esperou no portão de casa mesmo. Desta vez, pão e água. A família toda estava na praia, lembro de ligar pra minha mãe e dizer: “tem um cachorro simpático que não sai da frente de casa”. Dias depois, descobri que não era um cão – era uma cadelinha. Foi pro veterinário, tomou banho, vacina, remédios e o inevitável aconteceu: ela passou pro outro lado do portão, com o meu total consentimento.

A gente tinha outra cadela em casa, a Pink. Mas ela estava de férias na praia junto com a família. Então a cadelinha nova achou que a casa para onde acabara de se mudar era só sua. A Pink voltou e foi aquela confusão: as duas não ficavam juntas sem um arranca-rabo (literalmente). Durante meses, ter dois cães foi um trampo – enquanto uma saía, a outra entrava, uma ficava na cozinha, a outra na sala. O importante era que nunca se cruzassem. A Pink, que já era velhinha, adoeceu e morreu.

A Kiki – sim, este ficou sendo o nome da “nova” cadelinha da casa – não sentiu a menor falta, eu acho. Reinou absoluta por anos e anos. A família cresceu, os irmãos foram saindo de casa e a Kiki cada vez mais rainha daquele espaço. Virou a companheira inseparável da minha mãe, o tipo de cachorro que fica esperando na porta do banheiro enquanto o dono toma banho. Por um, cinco, dez anos… quatorze, pra ser mais exata.

Vou confessar para vocês que a Kiki não era assim um cachorro modelo, não. Além da antipatia por outros cães, ela também não fazia a menor questão de ser simpática com humanos – exceto com a minha mãe, é claro. Nunca foi o tipo de cão que faz festa quando alguém chega em casa. Pelo contrário: do seu cantinho no sofá, media cada visita com um olhar penetrante e um “sorriso” seguido de rosnado. Não era cachorro de colo, mas se você falasse com jeitinho “deite para coçar” ela logo virava a barriga pra cima: pronto, isto é o máximo que você terá de mim. Coce minha barriga e não me incomode. Ainda assim, lembro de todos os invernos que ela passou deitada no sofá do meu lado, esquentando os meus pés.

Dava para ouvir o barulho das suas patinhas pelo piso de madeira o dia todo: onde minha mãe ia, a bichinha ia junto. Tic, tic, tic, tic, tic, tic. O tipo de barulho que você se acostuma de tal forma que nem percebe mais… mas quando silencia, faz uma falta danada.

One Response to “A história da Kiki”

  1. Priscila December 3, 2012 at 4:59 pm #

    O ‘tic tic tic tic’ foi ótimo… Era exatamente esse barulho!! rsrs!!Vou guardar essa boa lembrança na memória… =)

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